17 setembro, 2023

A invisibilidade da tradução

Quando eu me decidi pela transição de carreira, a primeira coisa que busquei foi um curso específico na área. Muitas pessoas consideram que “saber inglês” (ou qualquer segundo idioma) é suficiente para entrar na área de tradução, e as coisas não são tão simples assim. A crença comum sobre a profissão, é que “sabendo inglês”, você pode sair traduzindo à vontade e tem tanta coisa envolvida, vícios de linguagem, erros perpetuados em traduções literais, contexto, realidade cultural. É uma arte.

E isso, na verdade, derruba a crença do "é só saber inglês". Eu considero, na verdade, que o mais importante no processo é saber o português. Isso mesmo, pasmem, para ser tradutor, você tem que ser excelente em português e não em outro idioma qualquer. É óbvio que você tem que conhecer um segundo idioma (no mínimo), mas esse realmente não é o seu foco e nem é onde seus maiores esforços devem estar, e sim, no seu próprio idioma.

Uma pergunta comum quando falo que sou tradutora é: Juramentada? O contato mais comum das pessoas com a necessidade de uma tradução é quando ela é necessária para emitir algum visto, traduzir documentos (do português para outro idioma) e, nesses casos, você precisa de um tradutor juramentado. Mas há muito mais mercado na profissão do que a tradução juramentada. 

A começar pelo literário, claro. Muitos livros que você lê foram escritos em outro idioma, e você nem lembra disso. Sabe quem é o autor do livro, mas você nem sempre presta atenção em quem foi que permitiu que você esteja lendo o livro: o tradutor.

Ou, entrando na área em que eu trabalho mais, você reserva sua passagem aérea, sem imaginar que o site foi escrito em outro idioma e chega a você em português porque passou por um tradutor, você escolhe seu hotel na Europa em um site em português, sem pensar em como aquele site de um hotel em Paris foi escrito em seu idioma (ou seja, não foi....).

A verdade é que a tradução está presente em nosso cotidiano muito mais do que imaginamos ou paramos para pensar. Eu costumo me ver como uma ponte. Eu sou uma ponte entre o fabricante de um produto e seu consumidor brasileiro, sou uma ponte entre o hotel na Inglaterra e o feliz viajante brasileiro a caminho, uma ponte entre o operário brasileiro da multinacional e o programa de treinamento concebido nos Estados Unidos.

Eu gosto de ser uma ponte.

 

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